Relato 13: Banquete de símio (South Borg)

Este relato é parte da campanha aberta de South Borg.

Escrito por Márcio Loureiro

Os Reinos Insulares agora são uma realidade distante. O naufrágio ainda atormenta meus sonhos. Mas a realidade é ainda mais cruel.



Vila Esperança me parece um nome jocoso para este acampamento encharcado na margem náufraga de uma praia maldita. A fome nos obriga a adentrar uma selva amaldiçoada. Uma cruz entalhada em uma árvore é o marco de nossa entrada na Grande Floresta. Como um aviso a nós, caçadores famintos: o calvário espera àqueles que adentrarem.

Tentavamos conseguir comida e nosso plano era encontrar alguma caça bebendo água na margem do Lago do Monstro, mas os santos resolveram gozar de nós naquela manhã. Em nossa tentativa por buscar ervas fedidas para disfarçar o odor de suor e medo que escorria de nossa pele quente, avistamos um Homem-macaco. Uma besta de cinco metros de altura, que também encontrou nosso rastro.

Seguimos a criatura até a margem norte da Trilha Ancestral, e antes que ele pudesse nos ver, o Aranha, um velho mandingueiro que compunha o grupo de famintos, lançou a maldição da sede contra a besta. O monstro começou a secar e eu disparei uma de minhas flechas. Enquanto a criatura corria atrás de mim, lembrei das rezas que nos acompanhavam durante as tempestades em alto mar. Elas não me ajudaram lá, mas me ajudaram aqui.

Enquanto eu atraia a fera, Lero e Caburé perseguiam a criatura com suas lanças. O tronco de palma que o gigante carregava passou zunindo em meu ouvindo e eu corri como o vento. Quando a besta parou para alcançar o tronco, os loucos valentes se lançaram contra ela. Quase morreram os coitados. Mas as mãos da Santa do Ventre Aberto seguraram as minhas com firmeza para que eu pudesse disparar minha flecha contra a nuca ressecada do homem macaco. A besta caiu mole. Nossa jantar estava ali.

Arrastávamos a monstruosidade de volta para a Vila Esperança e as moscas nos acompanhavam como viúvas numa marcha fúnebre. O ronco de nossos estômagos me lembravam as velhas banshees das terras altas. Mas fora o ronco de dois suinos gigantes e famintos que quase causara a morte do Aranha.

Corri para o topo de uma goiabeira enquanto meus aliados se desfaziam de suas rações, mas os javalis gigantes preferiram fuçar o traseiro do velho enquanto Lero e Caburé pulavam em seus respectivos galhos. Mas, muita carne de macaco e flechas atiradas depois, e os javaporcos do diabo foram embora. Pudemos partir.

Arrastamos o bichão, agora mordido e, na Vila Esperança, fomos recebidos como papais tucano pelos seus filhotes, com seus bicos fartos após roubar do ninho os filhotes das araras. Estripamos, escalpelamos, dessossamos, salgamos e assamos o demônio.

Foi uma tarde de alívio na Vila Esperança. Talvez os santos... talvez o nome, talvez eles não sejam assim tão irônicos e jocosos assim. Talvez eu só esteja de barriga cheia e precisando dormir. Dessa vez não vou sonhar com o naufrágio, já tenho novos pesadelos.

- Lourenço, o arqueiro.

 

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