Relato 17: Caçando um Troll Símio

Relato de Henrique Pugliese

Personagens: Joaquim (Henrique). Maria (Aruska), Kermel (Bernardo Neves), Raoni (Rodrigo Kury)

 Este relato é parte da campanha aberta de South Borg.


Imagem feita com IA

Joaquim sentia estar com sorte. A sua armadilha no Rio Faminto pegara um peixe gordo, logo cedo - não sentiria fome hoje. Desde o seu último transe com a floresta, sentia  seu espírito sucumbir cada vez mais profundamente. A trama sinistra que envolve esse local transformava-o, pouco a pouco. Já faz alguns dias que come apenas carne crua, sem apetite pela carne assada, seus dentes alongaram-se e a sua boca tornara-se uma bocarra, tão violenta quanto uma espada curta.

Lá estavam Leopoldo, Maria, Kermel e….quem é este? Um novato, parece forte o suficiente. A verdade é que estava satisfeito de encontrar Leopoldo, o homem sabe caçar bem. Juntamo-nos rapidamente e convidamos o novato para acompanhar na caçada. Raoni se chamava ele, espirituoso parecia e disposto a assumir uma posição de frente com seu porrete - hmmm….carne nova para a floresta, pensei.

Leopoldo guiou-nos pela ribeira do Rio Faminto e dali mais a frente, entramos para a floresta, seguindo uma antiga trilha que Leopoldo marcara com triângulos em algumas árvores mais distintas. Seguimos pela floresta até uma grande lareira, local da grande carapaça - um gigantesco casco de tartaruga, tão resistente quanto metal, pertencia a um antigo terror desta maldita terra, uma aberração mitológica como eu nunca vira antes. O terror e violência daquela criatura derrubou árvores e quase nos clamou a vida, mas por um acaso do destino, sobrevivemos e viemos buscar o nosso troféu.

Enquanto alguns tentavam, sem sucesso, soltar as poderosas placas do casco gigante, outros colocaram-se a caçar. Agora, relembrando parece tudo longe e embaçado, eu caminhava ao lado dos meus companheiros, mas não estava lá, estava flertando com a trama da floresta e ela clamava a minha carne. Escamas verdes se espalhavam pelos meus braços e pernas, meus dedos pareciam ligados por uma fina membrana….como isso aconteceu? Eles foram sempre assim? Olho ao redor e meus companheiros parecem assustados, olhando-me com estranheza.

O susto com a minha bizarra transformação foi rapidamente substituído por agitação quando Leopoldo pegou o rastro de uma grande criatura. Estávamos perto, mais perto do que esperávamos. Bem iluminado pela luz escapando entre os altos galhos ao seu redor, sentava um poderoso gorila, gigantesco, tão grande quanto um prédio de dois andares. Com alguma hesitação, escalamos uma grande árvore, que tinha uma boa visão da criatura e não era demasiado exposta. Pusemo-nos a lançar-lhe flechas….uma, duas, três flechas voaram e Raoni tomou a frente, seguido por Leopoldo. O gorila, no entanto, correu quando se deu conta da emboscada e, pasmem, Raoni resolveu dar-lhe perseguição!

Pelos deuses, este homem é louco… - e pulei da árvore com agilidade, seguido por Kermel. Maria estava num galho mais alto e, portanto, tomou mais cuidado em sua descida. Liderados por Raoni, que perseguia incessante sua enorme presa, seguimos. Raoni parecia instigado pelo cheiro de sangue. A verdade é que todas as flechas pegaram em pontos importantes: buxo, costela e coxa. O animal estava sangrando e a trilha estava viva. Raoni foi o primeiro a chegar na fera e, assistindo de longe, temi que o novato tivesse encontrado o seu destino ali, mas não. Ele desviou do golpe devastador do poderoso macaco e, com uma virada de tronco rápida e precisa, como alguém que treinara aquilo por anos, desferiu um golpe poderosíssimo na fera, nos testículos da fera. O animal se prostrou em posição fetal, com o escroto em mãos. Foi quando chuvemos flechas nele, uma atrás da outra.

Parecia uma vitória certa…mas não era. A criatura se inflou de ódio pela vexação sofrida e, tomada pela fúria que inflama os corações frente à morte, ela agarrou o Raoni com as duas poderosa patas e o puxou para perto, a sua bocarra era tão grande quanto a jangada que construímos, pelos céus. Assim como eu arrancaria a coxa de um saboroso frango e a comeria numa mordida só, a fera arrancou a perna do Raoni e a engoliu numa mordida só.

Maria chegou com mais um arco e sua flecha voou certeira. Kermel lançava as suas também, uma atrás da outra. Ele chegou junto comigo e tem atirado bem - pensei - certeiro e constante. Leopoldo recebera mais cedo uma poção mística de meu preparo. Ela iria servir bem para fechar as feridas na perna do Raoni, se é que ele está vivo ainda…. Mas, ao contrário do que todos esperavam, Leopoldo engoliu vorazmente a poção e correu de encontro ao monstro. Com espanto, nos entreolhamos…e demos de ombros. As flechas voavam, mas a fera simplesmente arremessou o corpo inerte do Raoni e começou a fugir…. não, não, - pensei - ela deu um passo, outro, titubeou e caiu.

Eu corri para o Raoni e, por sorte, consegui estancar o sangue de sua ferida. Limpei tudo com um resto de água que eu ainda tinha e utilizei as ferramentas de primeiros socorros que eu herdara de um falecido companheiro. Ele estava sob controle. Manco sim, perneta….mas, com alguma sorte, viveria.

Não perdemos tempo e pusemo-nos a carnear a gigantesca fera grosseiramente. Ainda assim, foi muito mais carne do que podíamos carregar, mas não iríamos abrir mão do botim, especialmente sendo comida. Eu já engoli um bom naco ali mesmo, cru e sangrando…. olhei para as bolas do macaco, pareciam apetitosas. Guardei-as para um futuro aperitivo. Eu já tinha feito uma sopa mágica delas uma vez.

Conseguimos separar o fêmur do monstro e deixamos com o Raoni para ele se apoiar. O retorno para a Vila foi extremamente complicado, lento, pesados, aleijados, acabamos por encontrar outra tartaruga gigante, esta viva e muito perigosa. Conseguimos contornar e fugir.

Após uma pequena colina e uma clareira, encontramos, como numa espécie de pesadelo acordado, uma mula sem cabeça! Ela parou na nossa frente e a esperança de todos caiu por terra quando viram o seu fim galopando em quatro patas. Tomei a dianteira e me prostrei em sinal de respeito. Nada aconteceu, nós recuamos e seguimos. Leopoldo parece ter ficado especialmente consternado com a aparição.

Quase chegando na Vila, fomos abordados por bandidos comuns… caramba, sem vontade de assumir o risco de tomar uma flechada (ainda mais depois de olhar para o Raoni perneta), eu simplesmente os subornei com comida para nos deixar em paz. Leopoldo estava claramente insatisfeito, mas sem poder argumentar muito (especialmente depois de engolir a tão preciosa poção sem motivo).

Foi assim que chegamos à Vila. Cansados, feridos, mas….com muita comida. Fizemos uma grande fogueira e comemoramos o feito, distribuindo comida para aqueles mais necessitados que nós. Retirei-me mais cedo, afinal, no dia seguinte, eu teria que tentar ajudar o Raoni Perneta.

De noite, sem contar nada para ninguém, deleitei-me comendo as poderosas bolas do grande macaco. O Leopoldo vai ficar uma fera - pensei - e ri, enquanto caía num sono tranquilo, com a pança cheia de carne (e testículos).

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