Breu - Entrevista com Rafão Araújo
Bernardo Lima: Boa tarde, Rafão. Tudo bem? Hoje estamos fazendo essa entrevista especial sobre o seu mais novo lançamento: Breu, um RPG de fantasia medieval inspirado em D&D 5e sob a ótica old school.
Conta pra gente de onde surgiu essa ideia e como foi desenvolvido esse projeto.
Rafão Araujo: Olá Bernardo, como vai? Cara, acho que criar seu próprio conjunto de regras é uma coisa quase natural. Há dois anos tive profundo apreço pela apresentação do OSR, onde tirei meus preconceitos de lado e conheci um mundo totalmente novo dentro do RPG. Mörk Borg me fisgou pelo visual, depois pelas regras, e daí pra frente consumi o máximo que pude. Ele serviu como porta de entrada.
Então, em 2022 escrevi um material longo chamado Prata Maldita para Mörk Borg, porém, encontrei uma barreira no meio do processo e entrei em hiato. Foi somente esse ano, com apoio do meu mano Diego Bassinello, que retomamos a escrita. Então nasceu BREU, um RPG que utiliza os pilares familiares aos jogadores modernos de RPG, mas com elementos que remontam o que, a meu ver, o OSR tem de melhor a oferecer.
O resultado tem sido maravilhoso. Rodando a fantasia medieval na crocância e textura que sempre almejamos. Mais crua, mais lenta, dolorosa e violenta.
Bernardo Lima: E por que o nome Breu? De onde veio essa ideia?
Rafão Araujo: Achamos que tem uma boa sonoridade. Não é escuro, é BREU. É uma palavra antiga, não é usada toda hora. É bem nossa e trás muita coisa consigo. O BREU ao redor da fogueira enquanto um orador conta uma história. O BREU da masmorra que será explorada. O BREU do vazio do mundo sem esperança. Enfim, nos soou como um nome forte, que fica na cabeça. Fácil de escrever, fácil de ler. Enfim... em breve tudo será BREU.
Bernardo Lima: Maravilha! E me diz uma coisa: você fez a opção de abraçar as regras modernas (do D&D 5e), mas manter a ótica da OSR estabelecida no Quick Primer. Como você equilibra as duas coisas? O que tem de moderno e o que tem de OSR no Breu?
Rafão Araujo: Gostamos da linguagem moderna que o 5e estabeleceu, como separar descansos em curto e longo, mesmo que ele não tenha criado essa regra e não saudamos como está no livro básico. Gostamos também dos bônus de proficiências, seja de equipamentos ou como modificador ascendente no seu campo de competência. Além disso, a 5e trabalha com números ascendentes e testes de resistência baseados nos atributos. Ao mesmo tempo, abolimos perícias, talentos, várias manobras e todas as coisas que o deixam carregados. Nos focamos na origem, na dialética que se estabelece na mesa, no papel de superação de desafios, na aversão à ideia de vitória acima de tudo ou hiper protagonismo. A OSR nos ensina muito sobre o papel do mestre, resolução de conflitos via diálogo e a arbitragem como ferramenta comunitária de resolução de conflitos, colocando o foco do desafio sobre os jogadores e não sobre os números dos seus personagens.
Para criar liga nisso tudo, também se fez necessário olhar além. Permitindo criar algo novo e não apenas olhar para regras do passado. Por isso BREU trabalha com maior flexibilidade de magias, recuperação mais lenta de poder mágico, descritor de personagem que informe seus antecedentes como peça fundamental na resolução de conflitos e outros.
BREU abraça a modernidade, valoriza a tradição, mas possui sua própria identidade.
Bernardo Lima: Muito interessante! Como é construir um personagem de Breu? Tem muitas escolhas? É demorado?
Rafão Araujo: Um personagem de BREU leva no máximo 10-15 minutos para ficar pronto. Rola-se 1d4 positivo e 1d4 negativo, isso dará seu valor de atributo. Ou seja, +3 até -3, faça isso 6 vezes em ordem para obter o valor dos seus seis atributos. Some os bônus e penalidades, se o valor final for zero ou maior, fique com os valores. Se for negativo, role novamente. Faça uma troca de valores, trocando o valor de um atributo por outro. Escolha uma classe e anote sua informação. Preencha seu antecedente e uma sentença que enriquece seu personagem "Sou um(a)...., Bom(Boa) em...., Em busca de .....". Escolha um nome, qualquer equipamento adicional. Se for conjurador, escolha suas magias. Pronto!
Aqui tem um vídeo onde mostramos em live como fazer um personagem. Gastamos 10 minutos!
Bernardo Lima: Bem legal! Criar personagens rapidamente é muito importante pra OSR. E me agrada muito a ideia de ter um personagem em 10 minutinhos.
Fale mais um pouco de outras regras que são importantes pra comunidade OSR. Aquelas que os mestres adoram, para também eles serem pegos desprevenidos. Tem teste de moral e reação? E outros tipos de tabelas que geram situações interessantes?
Rafão Araujo: Um jogo OSR que se preze precisa dessas mecânicas né? :) Sim, nós até apelidamos isso de Trinca de Ouro do Mestre OSR: Reação, Moral e Chance. Mas nós não apenas usamos, como detalhamos bem o seu uso, não em números, mas em exemplos. Ensinando realmente como usá-las para tirar das costas dos jogadores e do Mestre a responsabilidade de gerenciar aquilo que deveria ser flutuante e ao acaso. Então, mostramos como Reação é mais do que boa impressão, mas também um gerador de situações. Como Moral diz muito sobre o modus operandi de uma criatura, assim como Chance é, talvez, a principal ferramente para uma boa arbitragem do mestre.
No caso de chance, focamos em usar sempre e apenas d6, criando algo claro para todos. Entendemos que se algo for acima de cinco chances ou abaixo de uma chance em um d6, (algo em torno de 15% por face), ou é uma falha, ou sucesso e não faz sentido rolar o dado. Notamos que, com isso, todos entendem claramente as probabilidades e aprendem rapidamente a negociar essa chance, auxiliando o Mestre em sua arbitragem.
Acreditamos que esse papel de arbitragem é uma tarefa mais fácil e agradável quando todos entendem as regras. Assim como ocorre nos esportes ou brincadeiras infantis, onde todos os participantes entendem as regras em sua totalidade e usam elas a seu favor.
Não temos nenhum pretensão em reinventar a roda, o que foi criado até aqui é muito bem estruturado. Logo, mestres antigos de OSR identificarão suas mecânicas tradicionais (encontro, iniciativa, surpresa e outros), ao mesmo tempo que ensinamos os novos uma visão prática de como usá-las.
Bernardo Lima: Isso deixa o jogo com uma boa pegada Old School. Para não me estender muito, farei só mais uma pergunta sobre regras. E essa é uma das mais importantes para mim. Qual o grau de letalidade de Breu? O jogo tem aquelas muitas camadas de proteção contra a morte dos personagens que vemos na 5e?
Rafão Araujo: Esse é o principal motivo pelo qual nos afastamos da 5e. Como dissemos, dela nos fizemos valer apenas de parte do seu corpo central que envole algumas rolagens de dado. Costumeiro a todos que começaram a jogar D&D após os anos 2000, da 3ed para cá. Fora isso, nossa visão é manter a letalidade alta. Fazendo com que o combate seja guerra, não esporte. A luta é dolorosa, todas as classes possuem d4 como dado de vida, exceto o guerreiro que é d8. Um descanso curto dura uma noite e descanso longo cerca de uma semana. Um personagem debilitado está à beira da morte. Um personagem drenado pode perder seus pontos e níveis. A magia é perigosa e pode trazer choques de retorno, Emaranhamento, quando usado de maneira leviana. Então, retiramos todos esses amortecedores de consequência, fazendo com o desafio seja levado às ultimas consequências. Em BREU nada é dado, tudo é tomado.
Bernardo Lima: Com isso você já me ganhou. Fiz aqui meu financiamento coletivo do Breu e garanti meu exemplar físico e o PDF. Recomendo a todos os leitores que participem do Financiamento Coletivo (ou comprem, se estiverem lendo essa entrevista em algum ponto do futuro) e dêem uma chance para este super lançamento que veio pra enriquecer o cenário tupiniquim do RPG.
Mais alguma mensagem que você queira deixar pros amantes de OSR que lêem o blog?
Rafão Araujo: É uma honra estar aqui. Acompanho seu trabalho e sou admirado por ele. Me siga lá no @redutodobucaneiro, onde será terá qualquer informação quentinha. Sigam o @luznegraeditora, a editora do meu amigo e parceiro de projeto, Diego Bassinello. Com isso você terá todas as informações que precisa.
Minha mensagem é: abracem os novos. Vários novos jogadores chegam todos os dias. Sejam agradáveis e receptivos com eles. Muitos não fazem ideia do que é OSR.
Fora isso, joguemos. É quando jogamos que fortalecemos amizades e relações.
Novamente, muito obrigado pelo espaço.
Bernardo Lima: Valeu demais, Rafão. Vida longa ao Breu!
Rafão Araujo: Tmjunto
Fim da entrevista
Para acessar o financiamente coletivo de Breu no Cartarse, clique aqui.
Breu foi produzido por Rafão Araújo e Diego Bassinelo
A entrevista foi realizada no dia 03 de maio de 2023
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